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Desde os dezesseis

– ainda tenho as mesmas dúvidas –

FLIP 2017

A FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) pode ser resumida, neste ano, pela repercussão do depoimento de Dona Diva. Na mesa de debate do ator Lázaro Ramos e da jornalista Joana Gorjão Henriques, a professora Diva Guimarães emocionou toda a plateia. Dona Diva descreveu momentos em que vivenciou experiências relacionadas ao racismo e discriminação.  “As pessoas falam bem de Curitiba, dizem que é uma cidade europeia, vai ver como é para os negros que moram na periferia” – relata a professora que se considera salva pela educação.

Pela primeira vez, em 15 edições, mais mulheres foram convidadas para as mesas de discussão da FLIP. Além disso, a presença de negros aumentou em 30%. Neste ano pudemos ver um pouco mais de diversidade e de representatividade no evento.

A curadoria foi realizada pela jornalista Josélia Aguiar, que se preocupou com a paridade em relação à participação de homens e mulheres nas mesas de discussão. A proposta desse ano foi a de oferecer opções diferentes das que já são conhecidas e reconhecidas pelo grande público. Já que a FLIP é, também, uma porta de entrada de autores menos conhecidos. A intenção da curadoria não era apenas de que as autoras e autores falassem sobre as questões raciais ou de gênero, mas que um grupo mais diverso pudesse falar sobre qualquer assunto relacionado à literatura.

Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz abriram a Festa com uma apresentação do autor homenageado – Lima Barreto – ao público. Lilia, historiadora, nos situou no universo do autor, descrevendo suas condições e questões abordadas em sua literatura. Lázaro trouxe a interpretação envolvente e sensível dos textos de Lima Barreto. O autor, conhecido pelo romance “O triste fim de Policarpo Quaresma”, não teve o reconhecimento pela literatura engajada e vanguardista. Já em Lima publica o texto “Não as matem”. Assim, denuncia o feminicídio e a desigualdade entre homens e mulheres – ainda tão atual.

A abertura do evento, portanto, sinaliza a que veio a FLIP deste ano. As discussões das mesas giraram em torno de assuntos relacionados a representatividade e igualdade de oportunidades entre pessoas que pertencem a diferentes segmentos da sociedade. Autoras pertencentes a África do Sul, Chile, Ruanda, Espanha, Argentina, Portugal, Luanda puderam discutir sobre essas questões. Entre as convidadas desta edição, estão as autoras Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Ana Miranda, Beatriz Rezende, Djamila Pereira de Almeida, Carol Rodrigues, Deborah Levy, Grace Passô, Scholastisque Mukasonga, Diamela Eltit, Joana Gorjão Henriques, Leila Guerriero, Pilar del Río.

A dupla Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz também debateu sobre a questão histórica do racismo e sua repercussão ainda hoje. O ator pontua que o racismo não é um problema dos negros, mas de todos nós. Todos somos agentes da reprodução dessa lógica e para freá-la é preciso conhecimento, reflexão e abertura para o debate.

Outros temas debatidos na FLIP:

  • Representatividade e lugar de fala de mulheres e negras(os).
  • As consequências do colonialismo no Brasil, especialmente o racismo e as desigualdades sociais.
  • Literatura vanguardista e engajada.

Em “O perigo de uma história única”, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie nos alerta que há outras histórias que devem ser ouvidas e conhecidas para que vejamos a humanidade e a semelhança naquele que é diferente de nós. Ao contar sua história, construir identidade(s) e, ao ocupar um espaço de fala junto, o “outro” construa também novas lógicas de existência.

“A consequência da história única é a seguinte: rouba-se a dignidade das pessoas. Dificulta o reconhecimento da nossa humanidade compartilhada. Enfatiza o quão diferentes somos em detrimento de quão iguais somos” (Chimamanda)

A FLIP desse ano conseguiu mostrar um pouco dessa diversidade de narrativas. Além disso, possibilitou que um número maior de pessoas tivesse acesso a essas discussões. Ainda há um grande desconhecimento de debates como esses na maioria de espaços como esse no Brasil.

João do Rio contemporâneo

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(imagem: GDF)

“A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo”

(A rua – João do Rio)

O dia amanhece cedo no Setor Comercial Sul. Nem sei se amanhece. Ou se dorme. Falo do Setor Comercial Sul, mas poderia ser o centro de quase toda grande cidade. Onde gente engravatada se encontra com mendigo. Mas é claro que nenhum dos dois se olham. Só se vêem ao longe. Um sabe que o outro existe. Mas são dois mundos que só se encontram na incompreensão.

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#leiamulheres e diversidade

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*imagem do blog Confeitaria

Neste ano a FLIP, em sua 14ª edição, homenageou Ana Cristina César, uma autora importante que não possui a projeção e espaço que merece na literatura. Ainda conheço pouco a autora e comprei dois livros por causa do evento: “Poética” e “Crítica e tradução”, ambas as edições da Companhia das Letras. Continuar lendo “#leiamulheres e diversidade”

diário de uma hipocondríaca.

img_post2Não há nada que produza ou estimule mais uma conversa entre estranhos, além das condições climáticas, do que o assunto ‘doenças’. Se você tem medo de médicos ou de qualquer procedimento, realizado por uma pessoa vestida de branco, que seja feito com objetos pontiagudos e cortantes ou se a incógnita das possibilidades que o resultado de um exame deixa você louca – com todos os cenários mais catastróficos – comparecer a consultas médicas pode ser uma tortura.

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sobre os últimos dias

escrever sobre a FLIP depois da FLIP é dos maiores clichês a serem cometidos. falar sobre o quão incrível é estar rodeado de todas aquelas pessoas e daquelas possibilidades chega a doer o peito porque a experiência só vai se repetir – no mínimo – em um ano. e em um ano esquecemos toda essa loucura, esquecemos o quanto tudo isso mexeu com nossa cabeça, o quanto foi importante e o quanto a vida pode ser maravilhosa dentro daquela bolha. Continuar lendo “sobre os últimos dias”

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